23 março, 2011

"As crianças não nascem iguais em direitos.
Mas não podemos desistir de contrariar
uma certa ordem de coisas,
bater à porta do coração e
perguntar sem medo:
- Pode-se entrar...?"
 Pedro Strecht


Dia Mundial da Consciencialização
do Autismo
(Dia 2 de Abril)





 
Em Dezembro de 2007, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o dia 2 de Abril como sendo o Dia Mundial da Consciencialização do Autismo (World Autism Awareness Day). A comemoração deste dia pretende promover uma maior compreensão do autismo e uma melhor inclusão dos indivíduos com esta problemática na sociedade, que se repercutirá numa melhor qualidade de vida das pessoas com Perturbação do Espectro do Autismo (PEA). 
Desde que a data foi instituída, todos os anos, no dia 2 de Abril, se promovem eventos com o intuito de sensibilizar o planeta para esta temática. A criação deste blog da Unidade de Ensino Estruturado do Agrupamento de Escolas da Sertã constitui o nosso pequenino contributo para esta causa. Pretendemos, com ele, partilhar informações e conhecimentos, assim como retratar o nosso dia-a-dia na Unidade.

O Autismo

O Autismo

Segundo vários autores, tais como Garcia & Rodriguez (1997), definir autismo não é fácil. Vários têm sido os estudos realizados e várias foram já as revisões ao termo. A primeira definição de autismo surge em 1943, pelas mãos do psiquiatra pediátrico Leo Kanner.
O New Lexicon Webster’s Encyclopedic Dictionary (1991) define autismo como uma desordem psiquiátrica em que o indivíduo se recolhe dentro de si próprio, não responde a factores externos e apresenta-se indiferente em relação aos outros indivíduos ou a acontecimentos exteriores a ele. Por seu lado, a Sociedade Americana de Autismo (Autism Society of América) apresenta o autismo como “uma desordem desenvolvimental vitalícia com perturbações em competências físicas, sociais e de linguagem”.
Convém, ainda, esclarecermos que, como refere Wing (1988, cit. in Marques, 2000), o quadro do autismo pode variar bastante, tendo proposto, este autor, a introdução do conceito «Espectro do Autismo».
Wing (1996) refere que as Perturbações do Espectro do Autismo (PEA) se caracterizam por uma tríade clínica de perturbações que afectam as áreas da comunicação, interacção social e comportamento.

Algumas características do Autismo


· dificuldades no relacionamento com pessoas e objectos;
· uso desapropriado de brinquedos e objectos;
· incapacidade de estabelecer interacções sociais com adultos e com outras crianças;
· incapacidade de ter consciência do outro;
· dificuldades no contacto visual;
· incapacidade em receber afectividade;
· intolerância no contacto físico;
· intolerância à mudança e dependência de rotinas;
· comportamentos compulsivos e ritualísticos;
· comportamentos de auto-estimulação;
· comportamentos que originam danos físicos a si próprio;
· hiper ou hipo sensibilidade a determinados estímulos sensoriais;
· momentos de cólera injustificados;
· comportamentos violentos para com os outros;
· dificuldade ou incapacidade de comunicar;
· vocalizações não relacionadas com a fala;
· ecolália;
· ecolália retadarda;
· preocupação com as mãos.

In Nielsen (1999)
Segundo Peeters & Gillberg (1995, cit. in Marques, 2000), existe um núcleo central de perturbações e características comuns a um conjunto de patologias com uma intensidade e severidade variável.
Presentemente, as PEA incluem:
- Autismo Clássico ou Síndrome de Kanner;
- Síndrome de Asperger (apresenta maior empatia e QI mais elevado e com melhores aptidões verbais que o Autismo Clássico);
- Perturbação Desintegrativa da Segunda Infância (nesta quadro, a criança apresenta um desenvolvimento normal no início da sua vida e só após os 2-4 anos de idade é que, de forma gradual, surgem sintomas autistas graves);
            - Perturbação global do desenvolvimento sem outra especificação (Autismo Atípico);
- Síndrome de Rett.

As Unidades de Ensino Estruturado (UEE)

As  Unidades de Ensino Estruturado (UEE)
As Unidades de Ensino Estruturado para alunos  com Perturbação do Espectro do Autismo (UEE) constituem uma resposta educativa especializada e são implementadas em escolas ou agrupamentos de escola onde se verifique um grupo de alunos com perturbações enquadráveis nesta problemática (ponto 1, artigo 25º, Decreto-Lei nº 3/2008).
No ponto 3, do artigo 25º, do Decreto-Lei nº 3/2008 estão definidos os objectivos destas Unidades. São eles:
a)      Promover a participação dos alunos com perturbações do espectro do autismo nas actividades curriculares e de enriquecimento curricular junto dos pares da turma a que pertencem;
b)      Implementar e desenvolver um modelo de ensino estruturado o qual consiste na aplicação de um conjunto de princípios e estratégias que, com base em informação visual, promovam a organização do espaço, do tempo, dos materiais e das actividades;
c)       Aplicar e desenvolver metodologias de intervenção interdisciplinares que, com base no modelo de ensino estruturado, facilitem os processos de aprendizagem, de autonomia e de adaptação ao contexto escolar;
d)      Proceder às adequações curriculares necessárias;
e)      Organizar o processo de transição para a vida pós-escolar;
f)       Adoptar opções educativas flexíveis, de carácter individual e dinâmico, pressupondo uma avaliação constante do processo de ensino e de aprendizagem do aluno e o regular envolvimento e participação da família.
(Decreto-Lei nº 3/2008, artigo 25º, ponto 3)

As Unidades de Ensino Estruturado destinam-se a apoiar a educação de todos os alunos que apresentem perturbações enquadráveis no espectro, independentemente do grau de severidade ou de manifestarem outras perturbações associadas.
O ensino estruturado consiste num dos aspectos pedagógicos mais importantes do modelo TEACCH. O modelo TEACCH surgiu na sequência de um projecto de investigação que se destinava a ensinar aos pais técnicas comportamentais e métodos de educação especial que respondessem às necessidades dos seus filhos com autismo. O Programa TEACCH (Tratamento e Educação de Crianças com Autismo e Problemas de Comunicação Relacionada) foi criado em 1971, por Eric Shopler e pelos seus colaboradores da Universidade de Chapel Hill, na Carolina do Norte.
TEACCH é um modelo de ensino que através de uma “estrutura externa”, organização de espaço, materiais e actividades, permite criar mentalmente “estruturas internas” que devem ser transformadas pela própria criança em “estratégias” e, mais tarde, automatizadas de modo a funcionar fora da sala de aula, em ambientes menos estruturados.  A organização do meio ambiente é uma das prioridades do ensino estruturado, assim como as rotinas de horário e de trabalho.

A UEE do Agrupamento de Escolas da Sertã

A UEE do Agrupamento de Escolas da Sertã
No ano lectivo 2005/2006, o nosso Agrupamento, abraçando uma iniciativa da ECAE (Equipa de Coordenação dos Apoios Educativos) criou uma Sala Teacch que, entretanto, respeitando o ponto 1, do artigo 25º, do Decreto-Lei nº 3/2008, foi convertida em Unidade de Ensino Estruturado.
Actualmente, a nossa UEE é frequentada por 4 crianças, com idades compreendidas entre os 5 e os 11 anos de idade. Estas crianças são oriundas não só do concelho da Sertã mas também de concelhos limítrofes (Vila de Rei e Pedrógão Grande). Recebem apoio na UEE de uma equipa composta por 2 professoras de Educação Especial (1 a tempo inteiro, outra a tempo parcial) e 2 assistentes operacionais. Beneficiam, ainda, do trabalho desenvolvido pela Terapeuta da Fala.

A nossa UEE dispõe dos seguintes espaços:
- Área de Transição;
- Área de Reunião;
- Área de Trabalhar em Grupo;
- Área de Aprender;
- Área de Trabalhar;
- Área do Computador;
- Área de Brincar.


Legenda:

ü ÁREA DE TRANSIÇÃO                                         ü ÁREA DE REUNIÃO
ü ÁREA DE TRABALHAR EM GRUPO                    ü ÁREA DE APRENDER
ü ÁREA DE TRABALHAR                                        ü ÁREA DO COMPUTADOR
ü ÁREA DE BRINCAR



Área de Transição
A Área de Transição encontra-se logo à entrada da sala e é aí que fica definido o horário que cada criança terá que cumprir nesse dia. No horário podem usar-se fotografias, desenhos, pictogramas, … dependendo do nível de compreensão da criança.
Esta área permite:
· Adquirir a noção de sequência temporal;
· Esclarecer o “onde”, o “quando” e “o quê”;
· Desenvolver a autonomia;
· Facilitar a compreensão de ordens verbais;
· Prevenir a resistência à mudança;
· Prevenir problemas de comportamento.


Área de Reunião
A Área de Reunião é um espaço amplo, onde existem cadeiras (cada uma identificada com o nome da criança), dispostas em semi-círculo e um quadro ou placard. A reunião é feita preferencialmente de manhã e todas as crianças estão presentes. Dão-se as boas vindas, conversa-se sobre o calendário, sobre o tempo, sobre determinados assuntos, ouvem-se histórias, canta-se, …
Nesta área pretende-se:
 · Desenvolver a comunicação;                                                          
 · Desenvolver a interacção social;
 · Explorar objectos, imagens, sons, calendário, tempo ...;
 · Aprender canções;
         · Aprender a escolher.


Área de Aprender
        A Área de Aprender situa-se num espaço bastante recolhido da sala, livre de estímulos, e é aí que o professor com cada criança, individualmente, treina as competências e as novas aprendizagens. Neste local existe um plano de actividades, que a criança deverá cumprir. O plano de actividades dá à criança uma noção concreta do que fazer e do saber o que fará a seguir.
 Este espaço tem como objectivos:
· Aprender conteúdos, de forma individualizada (é o chamado ensino 1:1);
· Melhorar a atenção e a concentração.


Área de Trabalhar
Os Gabinetes de Trabalho Individual (cada criança tem o seu gabinete, devidamente identificado com o nome) são os locais onde a criança realiza as tarefas que treinou anteriormente na área do aprender e que já consegue realizar sozinha. Aí, a criança segue um plano de actividades (tal como na área de aprender), que lhe indica quais as tarefas a realizar.
Os objectivos desta área são:
· Trabalhar autonomamente;
· Desenvolver as rotinas.


Área de Trabalhar em Grupo
Quando se pretende desenvolver uma actividade com vista à participação de todas as crianças (trabalho de expressão plástica, jogo, …) usa-se o espaço de Trabalhar em Grupo. É também aqui que se transmite à criança o sentido da partilha. 
Os principais objectivos desta área são:
· Desenvolver a interacção social;
· Realizar construções, pinturas, jogos;
· Partilhar os materiais.


Área do Computador
Na Área do Computador, a criança pode realizar jogos didácticos ou outras actividades adequadas ao seu perfil de competências.
Os objectivos desta área são:
· Consolidar aprendizagens;
· Desenvolver a autonomia;
· Desenvolver a atenção e a concentração;
· Servir como reforço;
· Desenvolver a coordenação óculo-manual.


Área de Brincar
Esta é uma área onde a criança pode brincar livremente ou seguindo uma orientação. Tem, ainda, um espaço para relaxar. Esta área pretende ajudar a criança autista a superar algumas dificuldades apresentadas, tais como: problemas na interacção social, dificuldades em imitar e dificuldades na exploração do meio. Aqui, a brincadeira poderá ser livre ou orientada por um adulto. Assim, dadas as limitações ao nível da imaginação das crianças autistas, o brincar deverá ser, em certas situações, estruturado e dirigido para que a criança possa estabelecer relações de causa-consequência que levem ao desejo de querer repetir essas experiências.
Os objectivos desta área são:          
· Brincar;
· Aprender a brincar;
· Relaxar;
· Ocupar os momentos de espera.

Actividades UEE


O nosso dia-a-dia
 (algumas actividades que desenvolvemos)


Actividade de trabalho de grupo - Placard do Outono
  

Actividade de trabalho de grupo - Natal

Actividade de trabalho de grupo - Enfeites de Natal (para levar para casa)

 
Actividade de trabalho de grupo - Placard do Inverno

Dia do Pai

Prenda oferecida ao Pai (Dia do Pai)

Actividade de trabalho de grupo - Placard da Primavera


Actividade de trabalho de grupo - Carnaval

Actividade de trabalho de grupo - Culinária (às vezes fazemos uns "petiscos"...)


Actividade de trabalho de grupo - Culinária (Bolo de Iogurte)


Actividade Físico-Motora - Caminhada até à ribeira da Sertã

Actividade Físico-Motora